Noiserv – “one hundred miles from thoughtlessness”

Este disco – “one hundred miles from thoughtlessness”, primeiro de originais do  português Noiserv, nome artístico de David Santos, foi uma recomendação do Vidro Azul de Ricardo Mariano e é muito, muito interessante em vários aspectos:

Em 1º lugar, é um excelente disco. Intimista, minimalista e ao mesmo tempo sofisticado. Já não surpreende que os músicos portugueses nos surpreendam, mas ainda conseguimos ficar surpreendidos por lhes ser dada tão pouca atenção. A música de Noiserv tem todas as características para fazer carreira lá fora, entre quem acompanha com alguma atenção a “cena” alternativa. Quem gosta de Sigur Ros ou Amiina, também vai gostar disto.

Em 2º lugar, é uma edição de autor sujeita a uma licença Creative Commons. Aliás basta ver alguns dos videos que se encontram no YouTube ou no MySpace do artista para perceber que estamos perante um músico que “caga” no star system. “Pequenos” artistas como Noiserv, um pouco por todo o mundo e um pouco por todos os estilos, estão a redescobrir o que é viver a música em vez de viver da música. Não digo que Bob Dylan não tivesse qualidade; o que digo é que, olhando à nossa volta nos tempos que correm, para artistas como Noiserv, não podemos deixar de nos perguntar quantos artistas de qualidade não “secámos” com o nosso milionário star system, que vigorou durante anos (e que na verdade ainda não morreu de todo). Eu, pela minha parte já contribui para a bolsa de David Santos. Com todo o gosto, em todos os sentidos!

Em 3º lugar, é um objecto de um requinte extraordinário. Várias folhas brancas com desenhos a lápis de Diana Mascarenhas, rodeados pelas letras em inglês, unidas por umas argolas pretas. O detalhe final é dado por um pequeno lápis de quatro cores num suporte próprio. Já agora, o lápis tem inscrito o site do artista mas é da portuguesa Viarco. Viva a Viarco!  Quando se ouve o artista não se imagina que é português; e quando se vê o disco também não. Este é sem dúvida um dos três CD mais elegantes que tenho na minha colecção. Claro que já fiz uma cópia para andar na rua. O original fica guardadinho lá em casa e só sai quando fizer bom tempo. Para não se constipar.

Era isto que queria dizer sobre “one hundred miles from thoughtlessness”, de Noiserv. A música, essa tem mesmo que ser ouvida…

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Last.fm adopta modelo pago

Isto é realmente uma péssima notícia, da qual só agora tomei conhecimento.

Se tivesse que eleger um site, de todos os que conheço, que , na minha opinião, corporiza o melhor da internet, provavelmente seria este.

Agora, menos de um ano depois de ter sido comprado pela CBS, o Last.fm vem anunciar que, devido a questões de direitos, terá que passar a ser pago fora dos EUA, Reino Unido e Alemanha.

A explicação para esta distinção entre o “primeiro mundo” e o “resto do mundo” já é bastante estranha: alegam que só têm serviços de vendas de publicidade nesses mercados e que só nesses países conseguem gerar rendimentos publicitários suficientes para pagar os direitos de autor das músicas. Isto significa que não querem que os visitantes de países “terceiros” desfrutem de um serviço que eles não conseguem monetizar, mesmo sem custos adicionais relevantes.  O que é bastante mesquinho. Claramente não se trata de uma situação em que o serviço não pudesse continuar como está; trata-se obviamente de uma situação em que os novos donos procuram novas formas de ganhar mais dinheiro com um site de sucesso.

E é aqui que bate o ponto, como diz o povo. Eu já recomendei muitas vezes o Last.fm e não sei quantos novos ouvintes angariei para esta “rádio” online. Trata-se, repito, do melhor site do mundo, na minha opinião. Mas obviamente não pagarei os míseros 3 dólares por mês que  irá custar. Por uma questão de princípio. Primeiro porque a explicação para o “uns” e “outros”  não apaga a injustiça de base. Segundo, porque  o modelo de negócio não pode ser este; tem que ser outro. Algo que a CBS irá certamente descobrir dentro de pouco tempo (dou-lhe um ano ou menos).

Portanto, tenho pena da CBS, cujas “vistas curtas” nasta matéria são tipicas dos grandes media e não pressagiam nada de bom para eles, e tneho algum desprezo pelso fundadores do site, que se aburguesaram e  quiseram “engordar” à conta do site que tão excelentemente produziram. Espero que estejam envergionhados do que fizeram!

Nós, os utilizadores da internet, conitnuaremos com a nossa vida e rapidamente encontraremos um substitutuo para o last.fm (play.fm, spotify.com e grovveshark.com são alguns dos candidatos). Será que o CBS também irá comprar algum deles? Isso não sei, mas uma coisa sei: o dinherio da CBS há-de acabar um dia…

Once – Glen Hansard

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Às vezes ainda vale a pena fazer zapping…

Descobri este filme – “Once” – por mero acaso numa noite destas no TVCine 2. Calhou passar por lá precisamente no momento em que, no filme, os protagonistas estão numa loja de instrumentos musicais a cantar a canção principal do filme e que lhes deu o Oscar de melhor canção original.

Obviamente, não o larguei mais até ao final fiquei maravilhado com o filme – que, ao que parece passou ao lado do circuito comercial português – e com a música, que encontrei à venda na Amazon (ainda não o descobri em Portugal, mas sou todo ouvidos…).

São – tanto o filme, de John Carney, como a música, de Glen Hansard – cheios de sentimento, de uma simplicidade absolutamente bela e profundamente tristes e alegres. Enfim, uma daquelas coisas que os grandes estúdios e os grandes músicos são incapazes de fazer. Vale a pela ver e ouvir.

Eis o link para a canção em causa, com imagens do filme.

Seabear é o mais recente nome a surgir da pródiga paisagem musical islandesa. Editaram o primeiro disco – chamado “The ghost that carried us away” – em 2007 (se alguém o descobrir à venda em Portugal, faça favor de me informar…).

O projecto Seabear tem um site próprio (a chamam “Seabearia“…) e uma página no myspace (em cuja lista de “amigos”, aliás, estão os Sigur Ros e os múm; faz sentido!), onde têm várias músicas em audição.

Neste link está o primeiro video – da canção “I sing I swim”, realizado “pelo Lars” (descoberto num interessante widget do Lyricsmode).

Também merece visionamento este pequeno video gravado ao vivo e em casa pelos Seabear com um Nokia N95 no quadro do Festival Iceland Airwaves 2007. Neste video aproveitamos para ficar a conhecer a banda e o apartamento da Inga e Singri, em Reykyavik. Tão natural como a música…

Takk!

 

 

Recomendação musical

Descobri os múm através da Islândia e dos Sigur Rós. O primeiro disco que ouvi foi o último - Go Go  Smear the Poison Ivy – editado em 2007, mas face aos três discos editados anteriomente é difícil dizer qual é o melhor. São todos os excelentes, com aquela mistura de géneros e o tom contemplativo que faz da música da Islândia algo de verdadeiramente especial.

Os múm, fundados em 1997 por Gunnar Örn Tynes e Örvar Smárason, a que se juntam vários outros membros em digressão, têm um site próprio,  recente, mas também podemos ouvir a sua música no MySpace, no site da Fat Cat Records ou no Last FM. A sua página na Wikipedia também tem algumas informações. No YouTube há vários videos. O Bruno Nogueira é fã. Para quem não conhece, vale a pena descobrir.

Como se deve calcular, o Fado não é a minha música. Mas há uma ligação profundamente cultural que faz com que ele não me seja completamente estranho.

Sempre achei interessante a figura de Camané. Não é de agora, este interesse, já tem uns anos. Mas agora que o começam a apontar como “a nova Amália” dou comigo a achar que é uma boa escolha. Pontualmente, aqui e ali (aproveitem para ouvir a entrevista a Carlos Vaz MarquesI, II, III), sem exuberância,  Camané tem revelado sempre muita “alma”. Isso, e uma boa voz.

Não conheço o suficiente de Fado para opinar sobre a voz ou as interpretações de Camané do ponto de vista técnico ou mesmo histórico. Mas estou profundamente convencido que, o que quer que o Fado seja, é sobretudo “alma”. É 90 por cento de emoção e 10 por cento de transpiração. É muito mais estética do que técnica. A comparação com Mariza não podia ser mais clara; estão nos antípodas um do outro. Um é sobretudo “alma”, o outro é sobretudo “voz”. Se amanhã, por uma travessura do destino (ia dizer fado…) ambos ficassem sem carreira, Mariza regressaria à loja do centro comercial de onde saiu e Camané iria trabalhar para uma marcenaria em Alfama e poderíamos vê-lo às sextas à noite na tasca a cantar. É essa a diferença!

Ao ouvir Camané, recordei conversas antigas com um amigo quando ambos dávamos os primeiros passos na descoberta da música e das grandes questões que ela suscita. Ele, músico por vocação e intuição, vibrava com o brilhantismo técnico dos executantes. Tirava malhas de guitarra, ritmos de bateria, e exultava com a dificuldade de os executar. Eu sempre achei isso um desperdício de talento.  O propósito de um artista não pode ser técnico; tem que ser estético. Um artista tem que viver mergulhado em emoções, tem que ter alguma dor de alma, é expectável ou mesmo desejável que seja até um pouco desequilibrado. Naquela justa medida em que isso lhe permita ter um pé neste mundo e o outro… noutro.

Poucos estilos musicais tornam esta distinção tão clara como o Fado e poucos artistas a corporizam tão cristalinamente como Mariza e Camané. Por isso, concordo, está descoberta a “nova Amália”!

Tim como cantor de rua

O que é que este video de Tim para a revista Sábado nos diz sobre a qualidade artística? É o Tim que não convence ou são os cantores de rua que são todos excelentes?

Uma excelente ideia da Sábado que, criando o facto em vez do reportar, está para além do jornalismo. Mas, com isso, indica o caminho ao jornalismo.

Como desconhecia, admito que não fosse o único: João Lopes e Nuno Galopim juntos num blogue? Isto é o “dream team” de quem gosta de música e cinema! Já está nos favoritos!

Três recomendações de rádio disponíveis online via podcast, para momentos intimistas:

Vidro Azul, um programa de Ricardo Mariano na Rádio Universidade de Coimbra, descoberto via Intíma Fracção.

Finisterra, um programa de Eduardo Brito e Hugo Ferreira, na mesma rádio, descoberto via Vidro Azul.

Ultima Thule, um programa de George Cruickshank, Mike Watson e Nev Dorrington emitido em Sydney, Adelaide e Camberra, Austrália.

 Com links destes e um leitor de mp3 redefine-se o papel da rádio.

Gidol = media consumer empowerment

Mais um exemplo de media consumer empowerment ou de como as antigas “audiências” se convertem em criadoras dos seus próprios media:

O Gidol (descoberto via BloggersBlog) é um site que usa o Google Video para encenar um concurso de lip-synch que, lançado em Março de 2006, tem sido um enorme sucesso. Não tem nada a ver com o Google (embora mereça elogios do Google). Foi criado por um engenheiro de tecnologias de informação australiano chamado Ben Petro e na verdade parece-me que pode ilustrar bem o futuro dos media:

  • Com os instrumentos certos (uma câmara de video e uma ligação de banda larga capaz de upload), os antigos consumidores de media (neste caso videoclips) tornam-se produtores dos mesmos;
  • Então, não deixam de consumir o produto de entretenimento da sua preferência (neste caso, videoclips), mas passam a ver videos uns dos outros, em comunidade aberta;
  • Muitas vezes, como neste caso, quem descobre o potencial de negócio que isto pode envolver não são as grandes empresas, mas um ou poucos indivíduos que fazem parte dessa comunidade (Ben Petro), ou seja, são eles próprios parte da “audiência” e é por isso que são capazes de perceber o que a “audiência” pretende.

Moral da história: as estrelas pop milionárias podem ir procurando casas mais pequenas (assim como os seus agentes, as suas editoras, etc); as grandes empresas de software (e não só) podem ir olhando com mais atenção para os seus pequenos funcionários; e os media… bom, na verdade os media deixam de ser… media. Ou seja, deixam de servir para aquilo para que sempre serviram e que era afinal a única coisa para que serviam: intermediar produtores e consumidores de informação e entretenimento. Deixam de servir. Ponto final.

Se isto não é uma revolução…

Nasce a Internacional Pirata!

Uma das consequências da tentativa de encerramento do Pirate Bay na Suécia (relato aqui) foi a grande notoriedade internacional que este movimento ganhou, Em resultado disso, os “partidos piratas” nascem como cogumelos um pouco por todos o lado, partilhando o manifesto político original do partido pirata sueco. EUA, França, Itália, Bélgica, Polónia, Austrália, Holanda, Espanha e Reino Unido são alguns dos países onde partidos semelhantes se criaram ou estão a ser criados. Dado o património eminentemente político que partilham, esta já uma verdadeira Internacional Pirata.

(via TorrentFreak)