Eu sempre trabalhei nos media, do lado da produção de informação, e sempre tive muito respeito pela função social dos jornais e dos jornalistas, em sentido lato. Creio que essa função social não é menor nos dias que correm, embora deva ser reavaliada.
Mas também olhei sempre com muita atenção – e alguma participação – para os novos media: os blogues, as plataformas de video, as redes sociais, etc. E desde cedo me pareceu que havia aqui um potencial de revolução e desregulação enorme, com o qual os media, os jornalistas e a função social dos meios de comunicação social teriam que lidar.
Esses são os antecedentes longínquos desta reflexão. Os antecedentes próximos são uma participação num congresso da WAN-IFRA realizado em Madrid em que o assunto foi aflorado, as reflexões sobre o assunto difícil mas interessante da neutralidade da rede e o frenesim das apps, que ainda decorre.
O que proponho nesta reflexão é um novo modelo de negócio para os media. Um modelo de negócio que permita conciliar os conteúdos “gratuitos” na internet, tal como actualmente os temos, com a remuneração dos conteúdos de qualidade que associamos aos media profissionais e que – muita gente o diz e eu concordo – é necessário para o funcionamento democrático das sociedades complexas.
No modelo de negócios tradicional dos jornais e revistas, o preço pago pelos consumidores pelo jornal ou revista em suporte físico alimentava toda a cadeia de produção: a distribuidora, os transportadores, o papel e, obviamente, os produtores de informação. No modelo de negócios actualmente praticado na internet, as fornecedoras de acesso cobram aos seus clientes uma tarifa assinalável por esse acesso, mas não partilham essas receitas com quem fornece os conteúdos, nomeadamente quando eles são produzidos por estruturas empresariais e profissionais qualificados que não podem subsistir essa remuneração. Este modelo de negócio explica como é que essa remuneração pode ser feita, por acordo directo entre os media e os fornecedores de acesso, sem que a navegação seja afectada e sem que o consumidor tenha que pagar mais por qualquer conteúdo (e muito menos negociá-lo caso a caso com cada um dos media que pretende “consumir”).
Subjacente ao modelo de negócio proposto está esta ideia base fundamental: falta inteligência na rede! Com os sistemas de monitorização de que dispomos actualmente não há nenhuma razão para que a rede de distribuição digital não seja suficientemente inteligente para “perceber” que tipo de conteúdos estão a ser processados, em que quantidade e que remuneração lhes deve ser atribuída.
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