“Todos somos peões”

O presidente do ACP acha que os peões (que andam a 5 km/h e pesam 75 kg, em média) deviam ter mais cautela e não se deviam “atirar para as passadeiras” de qualquer maneira, pois correm o risco de serem “colhidos” (que expressão tão curiosa…) pelos automóveis (que andam a 45 km/h e pesam 1500 kg, em média).

Pois bem, eu tenho uma contra-proposta para o presidente do ACP: tornar a paragem nas passadeiras obrigatória para os automóveis, tal como ao sinal de stop. Afinal:

a) as passadeiras apenas existem em perímetro urbano e

b) nas passadeiras os peões têm prioridade sobre os automóveis segundo o Código da Estrada.

Que tal?

Só quem nunca assistiu a um atropelamento pode ignorar a desproporção de forças entre um peão e um automóvel e ter dúvidas sobre de que lado está o problema.

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Rendez-vous

Poucas vezes um mito terá sido desconstruído com tamanha elegância!

Durante muitos anos, o filme “Rendez-vous”, de Claude Lelouch, alimentou polémicas atrás de polémicas. Filmado no final da década de 70, sem nenhuma truncagem ou aceleração da imagem, representa uma viagem assombrosa pelas ruas de Paris.

Eis o filme original:

À volta deste filme, certamente um dos mais entusiasmantes filmes de condução alguma vez feitos, foram criadas centenas de histórias mirabolantes: que o condutor seria um piloto de F1 cuja identidade nunca tinha sido revelada; que Claude Lelouch tinha sido preso na sequência da  primeira exibição pública do filme devido ao perigo que tinha criado durante a filmagem; que o carro usado era um Ferrari 275 GTB, ou então o Porsche do próprio Lelouch. Houve quem se desse ao trabalho de medir tempos e distâncias para calcular a velocidade média e verificar se as passagens nos vários pontos da cidade batiam certo. Durante muitos anos, este filme foi um verdadeiro mito urbano, sobretudo para quem gosta de automóveis.

Agora, em 2006, o mito é finalmente desconstruído com uma reportagem pelo mesmo percurso de Paris com o próprio Claude Lelouch:

O resultado final é notável. E o que é curioso é que, quem durante anos viveu com os mitos do “Rendez-vous”, não sai defraudado do seu visionamento. Apenas mais fascinado pela magia do cinema. Não do cinema dos efeitos especiais, mas do cinema das coisas simples que fazem sentido.

Este é sem dúvida um bom epílogo para a história do “Rendez-vous.”

(Obrigado, André, pela dica e pelas informações sobre o filme)