Eu não vou!

Mas afinal o que é que eu tenho contra o Rock in Rio? Bem, na verdade  são pelo menos 3 coisas:

1. O Rock in Rio não é um festival de música. É um festival de patrocinadores. Tudo aquilo existe para servir os fins comerciais a que se propõe. Não tem nada a ver com objectivos artísticos. Eu até aceito que os patrocinadores se associem a um evento musical; o que não aceito é que a música se associe a um evento de patrocinadores. E isso… é o Rock in Rio! O Rock in Rio é um evento no qual a música importa menos do que o marketing. E isso é uma boa razão para não gostar do Rock in Rio.

2.  O cartaz do Rock in Rio é prejudicial à música. Por cada Bryan Adams que 70 mil pessoas ouvem há pelo 10 novos artistas que não encontram o seu público. Se em vez que programar o Bryan Adams para 70 mil espectadores a organização programasse Bon Iver numa pequena tenda para 5 mil pessoas, isso seria melhor para as pessoas e melhor para a música. Pelas mesmas duas razões: porque Bryan Adams está esgotado e Justin Vernon está no peek da sua criatividade músical. Eu daria tudo para ter visto os U2 em Vilar de Mouros em 82, quando transpiravam toda a energia de “Boy” ou “I will follow”; mas não daria nada para os ver em Coimbra, com pouca música, mas uma espectacular parafernália de luzes, gruas e guindastes que se destina afinal a esconder precisamente a falta do essencial. Tal como no Rock in Rio. Isso é altamente prejudicial ao que realmente importa: a música. E essa é outra boa razão para não gostar do Rock in Rio!

3. O Rock in Rio abusa dos artistas que nele participam. Por interpostas pessoas: as que lá vão! É claro que eu gosto de “Supersticion” ou “Master Blaster Jammin’”! Como poderia não gostar?! Mas, tal como Bryan Adams ou Bruce Springsteen, há muito que Stevie Wonder esgotou a sua criatividade musical. Porque é mesmo assim: não se programa e não se controla; ou sai, ou não sai! Há quem diga que dentro de nós temos apenas um livro. Porque raio da razão é que haveríamos de ter mais do que 2 ou 3 discos? Há muitos novos artistas cheios de energia criativa: é esses que devíamos estar a ouvir. Mas afinal porque é que isso é um abuso em relação a Stevie Wonder, Bruce Springsteen ou Bryan Adams? Qualquer deles preferia estar com os netos ou a jogar golfe com os amigos. Em vez disso, vão ter que tocar, pela nonagésima milésima vez aquelas canções que já nem conseguem ouvir. Entre uma ou duas vezes em cada concerto e 5 a 10 vezes em ensaio, conseguem imaginar quantas vezes é que Stevie Wonder já tocou e cantou “I just called to say I love you”? Não será um abuso pedir-lhe que o faça outra vez? E ficar “ofendido” – como já tem acontecido… – se não o fizer? Claro que Stevie Wonder não foi obrigado a vir actuar à Zona J. Mas veio porque a organização conseguiu montar um evento de marketing  tão poderoso que lhe consegue pagar um cachet “irrecusável”. E consegue-o fazer, porque os 70 mil que lá vão pagam bilhete ou compram telemóvel ou abrem contas no banco. É isso que “obriga” os artistas – alguns deles pelo menos – a fazerem algo que na verdade não teriam muita vontade de fazer. Isso é um abuso e é portanto mais uma razão para não gostar do Rock in Rio.

É por estas razões – nem mais nem menos – que eu não gosto do Rock in Rio. E, obviamente é por isso que… Eu não vou!

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Alô povo que gosta de música:

Deixem de adorar esse dinossauros – Bruce Springsteen, Rolling Stones, Queen, Pink Floyd,  REM, Yes, Bryan Adams, Gloria Gaynor, entre muitos outros – e prestem atenção ao que trazem os ovos novos que estalam. Às vezes são pérolas!

A evolução da música não parou no jurássico!

(via Queremos ver Bon Iver em Portugal)

E a música?

Alguém sabe se os filhos dos U2 fazem música? Se os filhos de Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen têm alguma criatividade musical? E se realmente tiverem uma vocação musical, como aliás é muito comum nos filhos de músicos, será que conseguiram desenvolver uma carreira? Será que os papás deixaram? Não me parece…

A pergunta é retórica, mas o que está por detrás dela não é.

O concerto dos U2 em Coimbra foi um dos momentos altos do ano em termos de espectáculos, com directos das televisões, bilhetes caros há muito esgotados, vários patrocínios importantes, comboios especiais, milhares de watts de som e de luz e um palco gigantesco com vários ecrãs e todas a últimas tecnologias disponíveis. Até houve um congresso sobre branding U2 nos dias anteriores ao espectáculo. A lista poderia continuar indefinidamente. E poderia continuar a não falar de… música.

Acompanhei algum do buzz gerado no twitter e no facebook. Com uma curiosidade: a determinado ponto, alguém linkou via tweet aquilo a que chamou “uma prenda para os fãs dos U2”. E a “prenda” eram vários sets de espectaculares fotos dos concertos, alojados no Flickr. Ou seja: a prenda para os fãs dos U2, um grupo musical, não era música; eram imagens. Como parábola, não está mal…

Sobre concertos como os dos U2 costuma dizer-se que estão “para além da música”. Eu não sei se estão “para além da música”, “aquém da música” ou “em vez da música”, mas não tenho dúvidas de que a música desempenha afinal aqui um pequeno papel.

Musicalmente, os U2 acabaram em “The Joshua Tree”. Basta ver “Sunday Bloody Sunday” (ou qualquer outra canção do início de carreira) no You Tube para perceber que a energia e criatividade daqueles tempos nunca mais esteve presente na sua música a não ser em pontuais fogachos. Dir-se-á que a idade não perdoa, mas na realidade não tem nada a ver com idade: é simples esgotamento criativo. Há quem pense que cada um de nós traz dentro de si uma música, um livro ou um quadro. Quando muito dois ou três. Mas não mais do que isso! A tensão psicológica que dá origem às obras artísticas realmente criativas é simplesmente insustentável por muito tempo. É uma pulsão interior de tal magnitude psicológica que não pode ser sustentada indefinidamente. É uma força que irrompe, imparável, alheia à vontade do seu autor. É isso que contam os artistas sobre o seu próprio processo criativo.

São raríssimos os músicos que sabem envelhecer com dignidade. E, muitas das vezes, isso passa por experimentar outros estilos, outra parcerias, fazer coisas diferentes. Na maior parte dos casos – pelo contrário – limitam-se a colher os frutos da sua juventude e não resistem à tentação do caminho mais fácil e mais lucrativo. Tal como fazem os U2. A grande parte dos fãs que vai aos concertos não quer saber das novas músicas; quer é ouvir os velhos êxitos da sua própria juventude. É impossível que os U2 gostem da imagem que projectam no espelho ao final da noite, quando tiram a maquilhagem. É deprimente para os próprios e não é bonito de se ver.

Por isso, pela minha parte, lamento imenso não ter estado em Vilar de Mouros em 82 para ouvir os U2 tocarem temas como “Gloria”, “Sunday Bloody Sunday” ou “New Year’s Day” – é um dos grandes arrependimentos que tenho na vida – mas não tenho pena nenhuma de não ter estado em Coimbra neste fim de semana! Continuarei a ouvir com o mesmo deslumbramento de sempre a música dos primeiros anos dos U2, mas ocuparei o resto do meu tempo a descobrir novas músicas e novos músicos. Quem sabe, talvez descubra um dia destes que algum dos quatro filhos de Bono herdou realmente o talento do pai…

Noiserv – “one hundred miles from thoughtlessness”

Este disco – “one hundred miles from thoughtlessness”, primeiro de originais do  português Noiserv, nome artístico de David Santos, foi uma recomendação do Vidro Azul de Ricardo Mariano e é muito, muito interessante em vários aspectos:

Em 1º lugar, é um excelente disco. Intimista, minimalista e ao mesmo tempo sofisticado. Já não surpreende que os músicos portugueses nos surpreendam, mas ainda conseguimos ficar surpreendidos por lhes ser dada tão pouca atenção. A música de Noiserv tem todas as características para fazer carreira lá fora, entre quem acompanha com alguma atenção a “cena” alternativa. Quem gosta de Sigur Ros ou Amiina, também vai gostar disto.

Em 2º lugar, é uma edição de autor sujeita a uma licença Creative Commons. Aliás basta ver alguns dos videos que se encontram no YouTube ou no MySpace do artista para perceber que estamos perante um músico que “caga” no star system. “Pequenos” artistas como Noiserv, um pouco por todo o mundo e um pouco por todos os estilos, estão a redescobrir o que é viver a música em vez de viver da música. Não digo que Bob Dylan não tivesse qualidade; o que digo é que, olhando à nossa volta nos tempos que correm, para artistas como Noiserv, não podemos deixar de nos perguntar quantos artistas de qualidade não “secámos” com o nosso milionário star system, que vigorou durante anos (e que na verdade ainda não morreu de todo). Eu, pela minha parte já contribui para a bolsa de David Santos. Com todo o gosto, em todos os sentidos!

Em 3º lugar, é um objecto de um requinte extraordinário. Várias folhas brancas com desenhos a lápis de Diana Mascarenhas, rodeados pelas letras em inglês, unidas por umas argolas pretas. O detalhe final é dado por um pequeno lápis de quatro cores num suporte próprio. Já agora, o lápis tem inscrito o site do artista mas é da portuguesa Viarco. Viva a Viarco!  Quando se ouve o artista não se imagina que é português; e quando se vê o disco também não. Este é sem dúvida um dos três CD mais elegantes que tenho na minha colecção. Claro que já fiz uma cópia para andar na rua. O original fica guardadinho lá em casa e só sai quando fizer bom tempo. Para não se constipar.

Era isto que queria dizer sobre “one hundred miles from thoughtlessness”, de Noiserv. A música, essa tem mesmo que ser ouvida…

Last.fm adopta modelo pago

Isto é realmente uma péssima notícia, da qual só agora tomei conhecimento.

Se tivesse que eleger um site, de todos os que conheço, que , na minha opinião, corporiza o melhor da internet, provavelmente seria este.

Agora, menos de um ano depois de ter sido comprado pela CBS, o Last.fm vem anunciar que, devido a questões de direitos, terá que passar a ser pago fora dos EUA, Reino Unido e Alemanha.

A explicação para esta distinção entre o “primeiro mundo” e o “resto do mundo” já é bastante estranha: alegam que só têm serviços de vendas de publicidade nesses mercados e que só nesses países conseguem gerar rendimentos publicitários suficientes para pagar os direitos de autor das músicas. Isto significa que não querem que os visitantes de países “terceiros” desfrutem de um serviço que eles não conseguem monetizar, mesmo sem custos adicionais relevantes.  O que é bastante mesquinho. Claramente não se trata de uma situação em que o serviço não pudesse continuar como está; trata-se obviamente de uma situação em que os novos donos procuram novas formas de ganhar mais dinheiro com um site de sucesso.

E é aqui que bate o ponto, como diz o povo. Eu já recomendei muitas vezes o Last.fm e não sei quantos novos ouvintes angariei para esta “rádio” online. Trata-se, repito, do melhor site do mundo, na minha opinião. Mas obviamente não pagarei os míseros 3 dólares por mês que  irá custar. Por uma questão de princípio. Primeiro porque a explicação para o “uns” e “outros”  não apaga a injustiça de base. Segundo, porque  o modelo de negócio não pode ser este; tem que ser outro. Algo que a CBS irá certamente descobrir dentro de pouco tempo (dou-lhe um ano ou menos).

Portanto, tenho pena da CBS, cujas “vistas curtas” nasta matéria são tipicas dos grandes media e não pressagiam nada de bom para eles, e tneho algum desprezo pelso fundadores do site, que se aburguesaram e  quiseram “engordar” à conta do site que tão excelentemente produziram. Espero que estejam envergionhados do que fizeram!

Nós, os utilizadores da internet, conitnuaremos com a nossa vida e rapidamente encontraremos um substitutuo para o last.fm (play.fm, spotify.com e grovveshark.com são alguns dos candidatos). Será que o CBS também irá comprar algum deles? Isso não sei, mas uma coisa sei: o dinherio da CBS há-de acabar um dia…

Once – Glen Hansard

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Às vezes ainda vale a pena fazer zapping…

Descobri este filme – “Once” – por mero acaso numa noite destas no TVCine 2. Calhou passar por lá precisamente no momento em que, no filme, os protagonistas estão numa loja de instrumentos musicais a cantar a canção principal do filme e que lhes deu o Oscar de melhor canção original.

Obviamente, não o larguei mais até ao final fiquei maravilhado com o filme – que, ao que parece passou ao lado do circuito comercial português – e com a música, que encontrei à venda na Amazon (ainda não o descobri em Portugal, mas sou todo ouvidos…).

São – tanto o filme, de John Carney, como a música, de Glen Hansard – cheios de sentimento, de uma simplicidade absolutamente bela e profundamente tristes e alegres. Enfim, uma daquelas coisas que os grandes estúdios e os grandes músicos são incapazes de fazer. Vale a pela ver e ouvir.

Eis o link para a canção em causa, com imagens do filme.