A Alemanha “comprou” Portugal

A Alemanha “comprou” Portugal! Ou achávamos, porventura, que os fundos europeus que nós desperdiçámos vinham a custo zero? A Troika não é mais do que o cobrador do fraque da Angela Merkl! A questão é o que é que o povo português vai fazer quanto a isso. E nem sequer são precisas revoluções ou manifestações de rua; por uma feliz coincidência vamos votar para decidir o que fazer e já sabemos com clareza tudo o que precisamos saber. Esta eleição é afinal um referendo à Troika e, implicitamente, à nossa vontade de independência. E temo o pior!

A eleições de 5 de Junho serão certamente as eleições menos democráticas de sempre na história da democracia portuguesa.

Porquê? Por duas razões. A primeira é que já existe um programa de governo mesmo antes da realização das eleições.  Quem quer que seja eleito para o próximo governo, não vai fazer nem mais nem menos do que aplicar o programa da “troika”. Ou seja, tudo aquilo que os candidatos disserem em campanha eleitoral é irrelevante. As ideias são despropositadas e os programas não podem ser outros do que aqueles que estão escritos no documento da “troika”. Não há posições mais à esquerda ou mais à direita; aquelas que forem esgrimidas em campanha são “areia para os olhos” dos eleitores. Não vai haver uma governo tendencialmente mais à direita ou um governo mais à esquerda, seja liderado pelo PSD ou pelo PS. O que vamos eleger no dia 5 de Junho são os “funcionários” que vão executar um plano que já está traçado. E mesmo que alguns candidatos falem em medidas “alternativas” ou “adicionais”, isso não passa de falácias: aquilo que interessa está decidido e o que não está incluído no acordo só será permitido se não o beliscar. Ou seja, se for… irrelevante.

Mas há outra razão pela qual a próxima eleição será a menos democrática de sempre da história democrática portuguesa. É que temos esta circunstância original de três partidos concorrentes às eleições – PS, PSD e PP – já terem dado o seu acordo ao programa de governo, contra outros que se recusaram a fazê-lo – nomeadamente o BE e o PCP. Isto significa que também já sabemos, em parte, quem é que vai ser governo. Só não sabemos se sozinho ou acompanhado, por um ou por dois outros partidos.

Tudo isto é muito pouco para votar numas eleições legislativas!

Na verdade, bem vistas as coisas, só há – de facto! – dois partidos concorrentes às próximas eleições: o partido do FMI e o partido contra o FMI. Qualquer voto num dos 3 partidos do chamado “arco governativo” é um voto a favor do FMI e é irrelevante na sua distribuição, pelas razões expostas acima. E qualquer voto em qualquer dos restantes partidos será um voto contra o FMI e igualmente irrelevante na sua distribuição. Esta será, de certa forma, a única escolha democrática que está realmente em causa. O “partido do FMI” conseguirá um bom resultado se conseguir uma maioria estável, qualquer que seja a combinação partidária. O “partido anti-FMI”, por seu lado, terá um bom resultado se conseguir impedir essa maioria. O primeiro objectivo é fácil; o segundo é quase impossível. Mas é, realmente, o único que é politicamente relevante.

Will online news revenue ever reach that of printed news?

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This infographic published in Paidcontent.org (and made by Scout Analytics) is very interesting in various ways.

First because it reflects one of the greatest changes the media landscape has suffered ir recent years (and is still experiencing): the current abundance of information as opposed to its previous scarcity has the effect or lowering the value of each information unit. That is the most solid argument against the possibility of the media ever discovering an alternatively sucessful business model. The problem is that argument departs from the assumption that the social role of the media would be the same in a new information environment. It will not! Maybe the social role of the media in the new world of abundant information will no longer be to carry scarce and valuable information but rather to filter and curate the referred abundance of information, which may turn out to be just as valuable. We’re not sure that is the way we’re heading, but we cannot also be sure it insn’t.

Secondly, that infographic draws its conclusions from the comparison between a reality in which media use printed paper to carry information and another reality in which they use digital processing. The two realities simply aren’t comparable. Why? Because one is “intelligent” and the other isn’t hardly as much (per comparison, it may well be considered “dumb”). The digital processing and distribution of information has been made possible by advancements in science that could not be forseen. Why would not the same advancements in science allow an “intelligent” and efficient allocation of revenue to the bits and pieces of information that flow through the web? If we can control that information in a greater number of its variables why would we not be able to control its cost and attribute its correspondent revenue? We don’t do it today, but I see no reason why we should not do it tomorow. And, of course, on that day the link between the production of content and its monetization will again be established, now in the digital world.

My presentation to WAN-IFRA Iberica 2010

This is my presentation to the WAN-IFRA Iberica 2010, that took place ina Madrid almost an year ago.

In the context of the roundtable regarding “pay per content and revenue generation models in digital markets” (in which there were representatives from El Mundo, ABC e El Confidencial, among others) the debate was very interesting and got me thinking about this issue. The notion that there was money flowing that simply was not paying for the content whose value generated it was the spark to this.

PresWan-IfraMadrid2010http://www.scribd.com/embeds/54171674/content?start_page=1&view_mode=slideshow&access_key=key-1zaat48vx3eymqf3ksf6

A new business model for the media

I’ve been a newspaper guy all my life and I’ve always respected very much the social role of the media in society. And I really think that role is even more crucial today than ever before.

But I’ve always paid extreme attention to the new ways information flows in society and experimented with most of them: blogs, social media of all kind, video and audio sharing, etc. And I really think the freedom of information that is changing society (and the world…) is ultimately a good thing.

 Last year I paneled in a WAN-IFRA international gathering in Madrid in which the issue of online media monetization was debated. And – summing up all the opinions – it became gradually clear to me that if news media really wanted to make money online, they needed a very different approach than the ones they were trying and that neither the paywalls (however sophisticated) nor the apps would be the definitive solution. In the following months I evolved this new business model for the media in the digital age, which I think responds to the needs of information consumers but also of the media companies, as well as those of society as a whole.
 

In the business model of the traditional media – that served well for decades both the consumers and the producers of information – the price paid for those who bought a newspaper or a magazine was redistributed through the chain feeding the necessary professional operations of each and every agent of the process. In the current business model of the digital distribution of  information, the client also pays a fee for the broad spectrum of information he gets, but that money is not redistributed to the chain. This business model proposed explains why and how that should be done.

In the backbone of this new business model for the digital media is this basic ideia: there is not enough intelligence in the network. If we want navigation to me seamless and profitable, we got to have a network that is smarter and capable of measuring and value the content that is channeled. The business model also explains how it can be done.
In this blog I will evolve this issue as a work in progress. I will refer to the posts and documents that led me to this conclusion and will try to illustrate in which ways this business model responds to the ongoing debate about the viability of the media companies in the digital age. That is why I called it SmartMedia!

Of course, all kind of commentaries are welcomed, especially those that point to flaws in the system.


 

A New Business Model for the Mediahttp://www.scribd.com/embeds/54092244/content?start_page=1&view_mode=list&access_key=key-9dldvb5kgkf8abhrvce

Sobre o FMI

O que é dramático é que, quando olhamos para trás, percebemos que o povo português foi sempre, apenas, um figurante da sua própria História. Quando muito o artista convidado.

Do 25 de Abril de 74 à adesão à CEE, da instauração da República ao longo inverno do Estado Novo, o povo português nunca foi visto ou achado. Em 74 chegou quando a coisa já estava consumada e – basicamente – porque ninguém o impediu; e quando aderimos à CEE também não consta que tivesse feito alguma força nesse sentido. No essencial suponho que o povo tenha ficado surpreendido por ter sido convidado para um festim europeu que agora se percebe ter acabado em ressaca.

Por isso, o que irá fazer o povo português perante o FMI? Vai obviamente fazer aquilo que sempre fez: nada!Vai baixar as orelhas, evitar fazer ondas e continuar no carreiro como um rebanho bem comportado. Mééé!

 

Há muito tempo que não me sentia tão dramaticamente dividido como nestas eleições do Sporting. No fundo, gostaria de poder ter feito um mix das várias coisas boas menos as várias coisas más que vejo em cada candidatura. Mas isso não é possível.

Cheguei a pensar em votar em branco, porque, na verdade, acho que nenhuma das candidaturas tem a “estatura” que o SCP merece. Mas o voto é fundamental. Sempre e sobretudo nesta fase da vida do clube, do MEU clube.

Fiz um “mais” e “menos” daquilo que me pareceu realmente  importante em cada candidatura (detalhado abaixo) e decidi que vou votar Dias Ferreira para a direcção, na lista da AAS para o Conselho Leonino e na lista independente de Frederico Abreu (lista F) para o Conselho Fiscal. Porque me parece importante que, qualquer que seja o presidente eleito, os sócios tenham uma voz autónoma e independente nestes órgãos. Porque foram os sócios – ninguém mais – que deixaram sitiar o clube nos últimos anos.

DIAS FERREIRA (5-2)

+ Trazer o futebol para dentro do clube; + Paulo Futre = “catedrático” do futebol; + Rijkaard e Van der Gaag; + Reforços anunciados (Taiwo); + Tarimba no “sistema” do futebol português

– Paulo Futre espampanante; – Não se conhece a proveniência do dinheiro para reforços.

PEDRO BALTAZAR (5-3)

+ Percebe mais de futebol do que seria de esperar de um “engravatado”; + Tem dinheiro e contactos; + Tem classe; + Bons reforços anunciados; + Fechar o fosso com nova bancada

– É gago; – Falta gente do futebol; – Pode descambar em mais um “bando do croquete”, ele e os vices.

BRUNO DE CARVALHO (3-3)

+ Corte radical com o passado; + Aposta na dinamização dos sócios para atrair novos investidores; + Dar papel mais importante aos núcleos e filiais.

– Fecham-se as torneiras dos bancos e sponsors no dia seguinte; – Possibilidade de salários em atraso; – Inácio/Virgílio/Couceiro não têm estaleca para o cargo.

GODINHO LOPES (2-6)

+ Dupla Duque/Freitas; + Carlos Barbosa no marketing.

– Continuidade encapotada = enganar os sócios; – Saco de gatos (demasiados interesses pessoais na lista); – Clube nas mãos dos bancos; – “Açambarcar” de velhas glórias (estratégia eleitoral cozinhada pela banca); – Mais dinheiro da banca (reforços) = mais endividamento.

Claro que tudo isto pode ser muito discutível, tanto em relevância para as eleições como em substância da própria apreciação. Mas são as minhas opiniões sobre a matéria. E o voto, afinal, é o meu voto!

ADENDA: Faltou dizer uma coisa importante: quem que seja eleito será a partir de hoje o MEU presidente. E espero que todos os sportinguistas digam – e façam! – o mesmo.

 

O que vai acontecer?

Eis o que vai acontecer:

  1. A oposição em bloco chumba o PEC do Governo
  2. O Primeiro-Ministro pede demissão
  3. O Presidente convoca eleições antecipadas
  4. José Sócrates concorre às eleições
  5. O PSD ganha com maioria (muito) relativa
  6. PSD + PP juntos não têm maioria no parlamento
  7. Sócrates demite-se do PS por causa dos resultados
  8. António Costa, António José Seguro ou Francisco Assis, um deles é eleito para a liderança do PS
  9. O Presidente sugere um entendimento de salvação nacional entre PSD, PS e PP
  10. O líder do PS aceita.

NOTA: Este é um exercício de pura adivinhação política usando o conhecido método de “dedo no ar”.

Eu sempre trabalhei nos media, do lado da produção de informação, e sempre tive muito respeito pela função social dos jornais e dos jornalistas, em sentido lato. Creio que essa função social não é menor nos dias que correm, embora deva ser reavaliada.

Mas também olhei sempre com muita atenção – e alguma participação – para os novos media: os blogues, as plataformas de video, as redes sociais, etc. E desde cedo me pareceu que havia aqui um potencial de revolução e desregulação enorme, com o qual os media, os jornalistas e a função social dos meios de comunicação social teriam que lidar.

Esses são os antecedentes longínquos desta reflexão. Os antecedentes próximos são uma participação num congresso da WAN-IFRA realizado em Madrid em que o assunto foi aflorado, as reflexões sobre o assunto difícil mas interessante da neutralidade da rede e o frenesim das apps, que ainda decorre.

O que proponho nesta reflexão é um novo modelo de negócio para os media. Um modelo de negócio que permita conciliar os conteúdos “gratuitos” na internet, tal como actualmente os temos, com a remuneração dos conteúdos de qualidade que associamos aos media profissionais e que – muita gente o diz e eu concordo – é necessário para o funcionamento democrático das sociedades complexas.

No modelo de negócios tradicional dos jornais e revistas, o preço pago pelos consumidores pelo jornal ou revista em suporte físico alimentava toda a cadeia de produção: a distribuidora, os transportadores, o papel e, obviamente, os produtores de informação. No modelo de negócios actualmente praticado na internet, as fornecedoras de acesso cobram aos seus clientes uma tarifa assinalável por esse acesso, mas não partilham essas receitas com quem fornece os conteúdos, nomeadamente quando eles são produzidos por estruturas empresariais e profissionais qualificados que não podem subsistir essa remuneração.  Este modelo de negócio explica como é que essa remuneração pode ser feita, por acordo directo entre os media e os fornecedores de acesso, sem que a navegação seja afectada e sem que o consumidor tenha que pagar mais por qualquer conteúdo  (e muito menos negociá-lo caso a caso com cada um dos media que pretende “consumir”).

Subjacente ao modelo de negócio proposto está esta ideia base fundamental: falta inteligência na rede! Com os sistemas de monitorização de que dispomos actualmente não há nenhuma razão para que a rede de distribuição digital não seja suficientemente inteligente para “perceber” que tipo de conteúdos estão a ser processados, em que quantidade e que remuneração lhes deve ser atribuída.

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“The empathic civilization”, por Jeremy Rifkin

Ora aqui está um livro que me deixou muito surpreendido (foi uma compra por impulso…) e que vai certamente ficar na lista reduzida dos mais importantes que li nos últimos anos.

Hoje em dia há muita coisa a mudar muito rapidamente e este livro (não é pequeno, são 600 páginas) fornece explicações para quase tudo. Eu sempre gostei de explicações holistas (desde Hegel…) e não concebo a realidade explicada de outra forma que não seja em todas as suas interdependências.

Claro que, como em todas as explicações holistas, a “civilização empática” de Rifkin tende a ser apresentada como o estado final de evolução da espécie humana (o autor nunca o diz, mas “sente-se” em vários pontos do livro), esquecendo todas as “explicações” anteriores que cometeram o mesmo erro.

A tese fundamental de Jeremy Rifkin (elegantemente explicada neste video aqui em baixo) é que estamos no início de um novo estádio da civilização humana, a que ele chama “civilização empática” e que se caracteriza pela comunhão entre todos os seres humanos, o ambiente e a bioesfera em geral. Argumenta que isso se deve à conjugação de revoluções combinadas nos subsistemas de comunicação (a internet…) e de energia (o fim dos combustíveis fósseis). E que essas mudanças terão consequências a todos os níveis da nossa vida, da sociabilidade à psicologia, da organização política à organização económica, etc. E este é o ponto mais profícuo do livro. Porque o que se sente, ao ler este “The empathic civilization”, é que estamos apenas a começar a vislumbrar todas as formas pelas quais o nosso mundo está a mudar radicalmente. E que todas as coisas que nos deixam perplexos no mundo actual (da manifestação “à rasca” de dia 12 aos movimentos de libertação do Norte de África) já têm ser explicadas à luz de quadros de análise profundamente diferentes (em que o Estado-Nação, por exemplo, desempenha um papel fundamentalmente diferente, mas as estruturas de representação política estão fundamentalmente iguais).

Enfim, este é um livro muito “food for thought” que recomendo a quem se interessa por explicações do mundo que não deixam nada de fora.

O Público anunciou a intenção de passar a cobrar pelos conteúdos online e o comentário de Henrique Monteiro (ex-director do Expresso e actual responsável pelas novas plataformas do grupo Impresa) no Facebook foi: “Não há outro caminho…

Ora, eu tenho sérias dúvidas que dizer que não há outro caminho seja a melhor forma de apontar um caminho… Por razões óbvias! Essa é uma posição essencialmente conservadora em que os jornalistas caem frequentemente quando abordam esta temática. A posição típica dos jornalistas neste debate dá-nos mais uma razão para alimentar a ideia fundamentalmente revolucionária de que não se pode prever o futuro olhando para o passado e que, pelo contrário, provavelmente a melhor forma de compreender o passado (e o fugaz presente, já agora) é olhando para o futuro.

Henrique Monteiro e António Granado estiveram recentemente num interessante debate online organizado pelo Contraditório sobre “O futuro dos jornais – os conteúdos online devem ser pagos pelo leitor?“. Obviamente, o “não” de António Granado ganhou. Mas esse é o resultado óbvio independente da argumentação. Aqui, a posição difícil era – é – a do Henrique Monteiro.

Nesse debate eu contribui com duas ideias:

1. A informação – ao contrário de um peça de fruta ou qualquer outro bem material – não pode ser roubada, pela simples razão de que o conceito de roubo implica que a pessoa roubada seja privada do bem roubado. O que não acontece no caso da informação. É o “princípio wikileaks” e o raciocínio fundamental que está na base dos movimentos anti-copyright (“information wants to be free”, lembram-se…). Ora, se a informação não pode ser roubada, também não pode ser vendida, pelas mesmíssimas razões. Portanto, quando estamos a falar de pagar pela informação online, não estamos a falar de um produto, provavelmente nem sequer de um conteúdo (que tenha uma existência física autónoma); estamos a falar de direitos de autor, ou seja, de copyright. Essa é a razão técnica pela qual não é possível, hoje, implementar uma estratégia paga online com condições de sucesso.

2. Ao contrário do que possa custar a aceitar aos jornalistas, é possível que uma boa parte do seu “valor” tradicional não seja resultado do seu trabalho, mas mero efeito de “gate-keeping”. Na paisagem media pré-digital, o efeito de “gate-keeper” (que está relacionado com a “escassez” do suporte físico jornal) explicava uma boa parte da proposta de valor do jornalismo. Hoje, no mundo digital, a abundância tomou o lugar da escassez e o “gate-keeping” foi… pulverizado. É por isso que vemos tantos “utilizadores” da internet a dizerem que não pagam por informação online. Não pagam porque a informação é abundante (na realidade é até excessivamente abundante, “pedindo” mecanismos de enquadramento e filtragem que, ironicamente, era o que os jornais deviam estar a fazer…) e há um número infinito de canais com um número infinito de solicitações informativas simultâneas. Essa é a razão de mercado para que só em casos muito específicos seja viável cobrar por conteúdos online.

Obviamente, ambas as coisas – as razões técnicas e as razões de mercado – se ligam com a ideia de que há apenas “um único caminho”. Contradizem-na, mais precisamente! Não há apenas um caminho e parece cada vez menos que seja esse!

Moral da história: o jornalismo é um elemento fundamental do funcionamento das sociedades modernas e, provavelmente, a abundância informativa em que vivemos torna-o ainda mais necessário e não menos. Mas o conservadorismo fundamental (para não dizer fundamentalista) da maioria dos jornalistas tende a cegá-los perante a revolução em curso que desfila à sua frente. É inútil pensar que podemos continuar a fazer, daqui a 5 anos, aquilo que fazemos hoje mas num suporte diferente. Isto não é apenas uma mudança de suporte. Isto é uma revolução! E quanto mais depressa o percebermos, mais depressa seremos capazes de “inventar” o papel essencial do jornalismo no admirável mundo novo que aí vem.

Carta aberta ao jovem Hugo

Há alguns dias, depois da derrota com o Benfica e da eliminação frente ao Glasgow Rangers, o jovem Hugo escreveu no seu Facebook: “O Sporting é uma vergonha.”

Eu conheço o jovem Hugo. É um miúdo divertido, responsável e amigo dos seus amigos. É um grande sportinguista e um excelente guarda-redes. Espero vê-lo um dia na baliza que foi de Vítor Damas.

Mas a descrença que o jovem Hugo revelou naquele momento em concreto – e que vemos actualmente em tantos e tantos sportinguistas – foi o que levou a responder-lhe nestes termos. Senti a obrigação moral de o fazer.

“Tens razão, Hugo: isto é uma vergonha!
Acontece que isto não é o Sporting!

O Sporting é Esforço, Dedicação, Devoção e Glória!

O Sporting é Manuel Fernandes, Jordão, Balakov, Hilário, José Carlos, Dinis, Schmeichel, Jordanov, Oceano, Peyroteo e Vitor Damas.

O Sporting é Carlos Lopes, Livramento, Lisboa ou Andorinho.

O Sporting é o Paulinho e a Fundação Aragão Pinto.

“Isto” NÃO É o Sporting!

Esta “vergonha” é aquilo em que uns senhores engravatados transformaram o Sporting ao longo das últimas décadas.

E é por ti e por jovens como tu que nós, Sportinguistas adultos e com direito de voto, temos a OBRIGAÇÃO MORAL de resgatar o Sporting do beco sem saída em que o meteram. Oxalá sejamos capazes de o fazer! Para que possamos um dia devolver-te o verdadeiro Sporting, o GRANDE Sporting! Aquele de que te poderás orgulhar!”

Deselegâncias…

Acho curioso…

O nosso Primeiro Ministro está a ser acusado de ter sido deselegante por ter dito que “não basta ser rico para ser bem educado” a propósito da afirmação de Soares dos Santos de que “truques é com o Sócrates; ele é que gosta de truques“.

Suponho que a afirmação tenha sido produzida num pequeno-almoço com a imprensa e imagino (não é difícil) que a pergunta tenha sido qualquer coisa como: “o senhor tornou o Grupo Jerónimo Martins no caso de maior sucesso empresarial em Portugal” (o que é verdade…). “Qual é o truque?

Ora Soares dos Santos – que é um indivíduo experiente e inteligente – devia ter percebido que aquela resposta – dada numa conferência de imprensa – não poderia senão ter o eco que teve. Ou então Soares dos Santos não é assim tão inteligente e nesse caso podemos deduzir que a sua fortuna e o seu sucesso deve-se ao trabalho de outros e e não à sua própria inteligência.

Inside job

Hoje assisti à ante-estreia de “Inside Job“, o filme-documentário sobre a crise financeira de 2008 realizado por Charles Ferguson premiado em Cannes:

1. Quando virem o filme experimentem trocar “Lehman Brothers” ou “MerrilL Lynch” por “BES” ou “BCP” e onde está “administração Obama”, “administração Bush” ou “administração Clinton” experimentem ler “governo de Sócrates”, “de Durão Barroso” ou “de António Guterres”. Como mesmo no dia anterior tinha acabado de comprar o livro “Donos de Portugal“, o “Inside Job” parecia a versão para cinema do livro, mas em “remake” norte-americano. Um “flash”!! Não arrisco dizer se foi Portugal que plagiou os EUA ou se foram os EUA que plagiaram Portugal, mas estou cada vez mais convencido que nem uma coisa nem outra. Provavelmente o fenómeno – que é o mesmo! – tem as mesmas causas nos dois sítios.

2. Continua a parecer-me irracionalmente surpreendente que, dois anos depois da débacle, nada – nada! – tenha acontecido. Nem aos seus protagonistas, nem às empresas, nem aos países, nem às sociedades, nem às ideologias que engendraram a crise. É muito difícil de compreender. Na realidade apenas concebo que aceitemos que nada aconteça, à luz de alguma mudança que esteja para chegar capaz de transformar definitivamente – revolucionar! – a maneira como funciona o mundo! É a única explicação!

3. Uma das figuras públicas presentes na ante-estreia era o professor João César das Neves, o tal do “não há almoços grátis”… Get it? Seria caso para perguntar quem é que pagava este “almoço”. Mas – sobretudo – gostava de ter estado ao lado dele quando o filme falou dos professores das grandes faculdades de economia norte-americanas e do dinheiro que ganhavam por fora a fazer relatórios favoráveis às instituições financeiras…

4. Aliás, as agência de rating também não saem muito bem do filme. Fixei sobretudo uma frase: “os nossos ratings são apenas opiniões”…

5. Por fim, registo a presença assídua – muito assídua mesmo – de algumas figuras do nosso “jet-set” televisivo nestas ante-estreias à borla. Será que nunca pagam um bilhete de cinema? Mais uma vez seria de perguntar ao professor César das Neves – outra vez! – se afinal há ou não há almoços grátis!!

The social network

Acabei de vir da ante-estreia do “The Social Network” – “A Rede Social” (Obrigado, Espadinha!), a aguardada “história” não autorizada do Facebook e de Mark Zuckerberg. E há dois ou três aspectos que gostaria de destacar:

1. Gostei do emaranhado da narrativa e da forma como os diálogos, os planos e a trama vão evoluindo de rápidos para lentos. Começa com um ritmo tão frenético que quase custa a acompanhar e termina, simbolicamente, com um longo plano de Zukerberg frente ao computador. É uma espécie de desconstrução e decomposição do ritmo acelerado da realidade de forma a permitir-nos focar-mo-nos nos seus componentes de base. Bom.

2. Uma das mensagens fortes do filme – mais uma vez simbolizada no plano final – é a enésima representação do aforismo “it’s lonely at the top”.  Não é o primeiro nem será o último filme a fazê-lo. Tantos acontecimentos depois, Zuckerberg acaba tão sozinho como começou e a pedir amizade à ex-namorada em nome de quem tudo começou. O vencedor está sempre sozinho, mesmo quando está rodeado de gente. Essa é a grande ironia do sucesso.

3. Outra das mensagens fortes do filme é esta: o sucesso só é atingível com persistência. Uma ideia realmente boa merece antes de tudo o respeito de nela persistirmos.  No filme, Zuckerberg perde namoradas, amigos e até ídolos para conseguir materializar aquilo que ao longo de boa parte do filme não passa de uma “boa ideia”. Mas consegue! Uma lição para todos nós.

4. Este é um filme sobre “nerdness”. Afinal o que é um “nerd” informático? A resposta está no filme. É preciso perceber – para quem ainda não percebeu -que um “nerd” da informática programa (digo eu que não sei código…) com o mesmo envolvimento com que um poeta escreve poemas ou um pintor pinta quadros. Não sei se o episódio é verídico, mas é por isso que Zuckerberg diz que criou um programa para a Microsoft ainda na adolescência e que fez o respectivo upload “porque sim”.  Um poeta escreve poemas mesmo que ninguém os publique. Um programador programa mesmo que seja só pelo gozo de fazer coisas. É esse “gozo” que transparece no filme e dá a mais completa definição do que é um “nerd”. É preciso perceber isso para perceber o estado actual da indústria informática.

5. É impressão minha ou a determinado ponto traduziram “Linux” por “Linus”? Daah!

(adenda) Outra coisa: É interessante (não disse significativo, disse apenas interessante) que a maior rede social do nosso tempo tenha sido inventada por um inepto social. É incontornável que isso diga algo sobre a sua rede (mais precisamente que está “em vez de”, a maior crítica que lhe é feita, e que aliás o filme também veicula), mas, sobretudo, questiona-nos sobre a natureza destas redes sociais face às redes cara-a-cara e sobre a relação entre as duas. Estes é um fenómeno que – parece-me – ainda está por compreender na sua plenitude.

Pela sua inesperada violência, este é um Orçamento com duas margens:

1. Tem margem para um acordo de viabilização com o PSD, mediante abstenção em troca com uma ou duas concessões;

2. Tem margem para, em Maio, aliviar ligeiramente o torniquete (quando os mercados já estiverem mais “calmos”) e permitir ao PS voltar a ganhar as eleições.

É politicamente brilhante e coloca mais uma vez o PSD de Passos Coelho perante um dilema indesejável: ou vota contra e perde; ou viabiliza o orçamento… e perde! Mais uma vez, Sócrates dá “15 a 0” a Passos Coelho em política pura. O homem está para durar!

Duas expressões cunhadas por Miguel Sousa Tavares no Expresso de ontem que devem ser registadas para referência futura:

1. “prostiuição moral”, a propósito do programa “Casa dos Segredos”, da TVI;
2. “arteriosclerose ideológica”, a propósito da reacção do PCP ao Nobel da Paz.

A imprensa desportiva em Portugal

Debatendo o estado da imprensa desportiva em Portugal, já por várias vezes me tenho lembrado deste episódio sem conseguir exactamente identificar a época, o contexto ou o mesmo a identificação do director em causa.

Felizmente, José Diogo Quintela, numa crónica no jornal A Bola de hoje, recupera a história e permite fazer o respectivo enquadramento. Refere-se a umas semanas durante 2006 em que os jornais generalistas traziam todos os dias notícias relativas ao processo Apito Dourado (nalguns casos com referências às escutas) e os jornais desportivos não lhe dedicavam nem uma linha. Obviamente, toda gente achava isso muito estranho e atribuía o facto à promiscuidade existente entre os jornais desportivos e o sistema “futebol”.

Eis como José Diogo Quintela recupera o episódio:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“AP” é Alexandre Pais, director do Record nessa altura e ainda hoje. E o que ele disse, em editorial do jornal, foi que o Record não podia morder a mão que lhe dá de comer. Obviamente nesse dia a imprensa desportiva morreu em Portugal. Bateu no fundo.

Para que não me volte a falhar a memória em algo tão importante, aqui fica o respectivo registo histórico. Tenho pena de não ter guardado esse jornal. É verdade que na época já não lia jornais desportivos porque pressentia o que o director do Record (e que é extensível aos outros jornais desportivos, sem excepção) viria a pôr preto no branco, mas ainda assim gostaria de ter guardado o jornal. Ultrapassando a morbidez do acto em nome da memória histórica do mesmo. Aqui fica.

E a música?

Alguém sabe se os filhos dos U2 fazem música? Se os filhos de Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen têm alguma criatividade musical? E se realmente tiverem uma vocação musical, como aliás é muito comum nos filhos de músicos, será que conseguiram desenvolver uma carreira? Será que os papás deixaram? Não me parece…

A pergunta é retórica, mas o que está por detrás dela não é.

O concerto dos U2 em Coimbra foi um dos momentos altos do ano em termos de espectáculos, com directos das televisões, bilhetes caros há muito esgotados, vários patrocínios importantes, comboios especiais, milhares de watts de som e de luz e um palco gigantesco com vários ecrãs e todas a últimas tecnologias disponíveis. Até houve um congresso sobre branding U2 nos dias anteriores ao espectáculo. A lista poderia continuar indefinidamente. E poderia continuar a não falar de… música.

Acompanhei algum do buzz gerado no twitter e no facebook. Com uma curiosidade: a determinado ponto, alguém linkou via tweet aquilo a que chamou “uma prenda para os fãs dos U2”. E a “prenda” eram vários sets de espectaculares fotos dos concertos, alojados no Flickr. Ou seja: a prenda para os fãs dos U2, um grupo musical, não era música; eram imagens. Como parábola, não está mal…

Sobre concertos como os dos U2 costuma dizer-se que estão “para além da música”. Eu não sei se estão “para além da música”, “aquém da música” ou “em vez da música”, mas não tenho dúvidas de que a música desempenha afinal aqui um pequeno papel.

Musicalmente, os U2 acabaram em “The Joshua Tree”. Basta ver “Sunday Bloody Sunday” (ou qualquer outra canção do início de carreira) no You Tube para perceber que a energia e criatividade daqueles tempos nunca mais esteve presente na sua música a não ser em pontuais fogachos. Dir-se-á que a idade não perdoa, mas na realidade não tem nada a ver com idade: é simples esgotamento criativo. Há quem pense que cada um de nós traz dentro de si uma música, um livro ou um quadro. Quando muito dois ou três. Mas não mais do que isso! A tensão psicológica que dá origem às obras artísticas realmente criativas é simplesmente insustentável por muito tempo. É uma pulsão interior de tal magnitude psicológica que não pode ser sustentada indefinidamente. É uma força que irrompe, imparável, alheia à vontade do seu autor. É isso que contam os artistas sobre o seu próprio processo criativo.

São raríssimos os músicos que sabem envelhecer com dignidade. E, muitas das vezes, isso passa por experimentar outros estilos, outra parcerias, fazer coisas diferentes. Na maior parte dos casos – pelo contrário – limitam-se a colher os frutos da sua juventude e não resistem à tentação do caminho mais fácil e mais lucrativo. Tal como fazem os U2. A grande parte dos fãs que vai aos concertos não quer saber das novas músicas; quer é ouvir os velhos êxitos da sua própria juventude. É impossível que os U2 gostem da imagem que projectam no espelho ao final da noite, quando tiram a maquilhagem. É deprimente para os próprios e não é bonito de se ver.

Por isso, pela minha parte, lamento imenso não ter estado em Vilar de Mouros em 82 para ouvir os U2 tocarem temas como “Gloria”, “Sunday Bloody Sunday” ou “New Year’s Day” – é um dos grandes arrependimentos que tenho na vida – mas não tenho pena nenhuma de não ter estado em Coimbra neste fim de semana! Continuarei a ouvir com o mesmo deslumbramento de sempre a música dos primeiros anos dos U2, mas ocuparei o resto do meu tempo a descobrir novas músicas e novos músicos. Quem sabe, talvez descubra um dia destes que algum dos quatro filhos de Bono herdou realmente o talento do pai…